Entrevista concedida a Karina Costa para o Portal Aprendiz, em 28 de setembro de 2006, e republicada no site EstudanteNet, Portal da UNE e da UBES.
Chat, blog, programa de troca de mensagem instantânea, cursos de educação a distância. Esses recursos digitais disponibilizados na internet são um bom pretexto para repensar a educação e, por isso, não devem ser descartados no processo de aprendizagem. É o que pensa o diretor de Tecnologia do Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais e Tecnológicos da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Seabra.
Para ele, o chat é uma ferramenta com grande potencial de educação. “Tudo bem que o chat é um mundo de mentira em que você é o que quer ser. Porém, o faz de conta é importante para a aprendizagem. Quando desenvolvemos esses novos personagens, entramos em contato com o nosso interior, nosso jeito de pensar e assim nos conhecemos melhor. É preciso aproveitar isso como estratégia de ensino,” acredita.
Seabra defende recursos como programa editor de texto, planilha, internet e banco de dados quando utilizados além do aprendizado técnico. Ele exemplifica: pode ser proposto aos alunos que saiam pelo bairro e façam uma pesquisa sobre poluição. Eles coletam dados e depois disponibilizam na web. Nesse momento, usam o editor de texto, aprendem a fazer gráficos e ainda podem fazer um comparativo e trocar informações sobre o tema com pessoas do mundo todo.
“Quando paramos para perceber esse trabalho, o aluno já estudou ao mesmo tempo ciências, meio ambiente, história, matemática e português. Ele também pode estudar gramática quando desenvolve jornais para a escola, escreve poesias para publicar no espaço virtual da sala. As vivências se tornam mais ricas no processo de aprendizado,” diz.
Para ele, com a chegada da internet, a escrita readquiriu um papel importante na escola. “Os professores só vêem a gramática de seus alunos na hora da prova. Na internet, você é o que escreve. O aluno não vai querer que um mundo de gente pense que ele não sabe escrever. Por isso, ao redigir um e-mail, divulgar seus trabalhos num site ou postar num blog vai prestar mais atenção quanto à gramática,” acha.
“Concordo com os professores que é deprimente ver certas linguagens utilizadas na web. Porém, não significa que os alunos não sejam inteligentes quando escrevem ‘vc’ ao invés de ‘você’ ou ‘naum’ ao invés de ‘não’. Esse é um processo de comunicação tribal que facilita a comunicação entre os indivíduos,” argumenta.
O especialista acredita que a tecnologia não traz solução e sim complicação. “Torna mais difícil o papel do professor que tem que se interar e saber tornar mais atraente a aula em que utiliza o computador ou a desinteressante lousa com giz branco. Mas claro que, como em todo desafio, trás vantagens de crescimento. É positivo observar como os recursos da internet, se bem utilizados no ambiente escolar, geram interação e aproximação no relacionamento professor-aluno. A tecnologia nos possibilita descobrir sujeitos talentosos como poetas e ainda disponibilizar uma poesia de alguém famoso a qual poucas pessoas teriam acesso anteriormente,” diz.
O especialista aponta que a era da informática traz para o professor grandes desafios. “Um deles é aguçar o aluno para o uso do intelecto perante as facilidades trazidas pela internet. Outro é utilizar novos métodos de ensino como a transdisciplinaridade. O professor quando opta por isso, vai contra o padrão do currículo escolar, contra os pais que acham que os filhos não estão sendo preparados para o vestibular. Os professores têm que estar preparados para mudar a escola e as tecnologias digitais e multimídia colaboram para que isso seja feito” acredita.
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