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As novas tecnologias e a democratização da TV

01/08/2007

AGOSTO 2007

Artigo escrito para a Sesc TV e publicado em agosto de 2007.

Com o recente debate sobre a TV Digital e, apesar de alguns pesares, a possibilidade de alargamento democrático da TV no Brasil, surgem algumas perspectivas novas de protagonismo social, educacional e cultural.

A convergência de mídias (celulares que filmam, por exemplo), os softwares que fazem de cada computador pessoal uma ilha de edição, a possibilidade quase que ilimitada de publicação e distribuição nos ambientes online – tudo isso pode implicar em novas oportunidades (e novos desafios) para a democratização do acesso e, principalmente, da produção e distribuição de conteúdos audiovisuais.

O papel e as possibilidades dos usuários e espectadores podem dar novos saltos de qualidade, a serviço do consumo crítico e da formação de novos olhares. Assim, há que alargar perspectivas para o fato que programas de TV podem ser copiados (embora esse debate implique aspectos no campo da propriedade intelectual) e sua cópia pode ser vista quando o professor ou os alunos melhor entenderem, fugindo às limitações do timing do broadcast.

Além de gravar os conteúdos, seja na escola, no lar, ou em outras entidades, os espectadores proativos poderão selecionar partes que lhes interessem, editar o som, a imagem, inserir conteúdos, numa remixagem geradora de novas possibilidades educacionais – inclusive engajando os alunos tanto no desenvolvimento de novas competências, quanto na pedagogia focada em projetos de áudio, de vídeo, de multimídia.

O apoderamento das novas tecnologias tem trazido também formas inovadoras de produção social de conteúdos. A experiência de organização do público na forma de cineclubes gera cada vez mais experiências de produção alternativa, bem como articulação de novas formas de distribuição e acesso a filmografias clandestinizadas pelos modelos concentracionistas das indústrias do audiovisual – que sepultam a diversidade cultural, condenada a lutar pelos 15% que sobram fora do que está dominado pela Motion Pictures.

Obviamente que jamais os blogs concorrerão com as obras-primas da literatura, mas certamente muitos escritores de nova geração nascerão da publicação inicialmente feita na web, assim como os excluídos da distribuição livreira já têm na internet uma alternativa. Do mesmo modo, filmes produzidos amadoristicamente não competem com o cinema, e não suprem a demanda cada vez maior de alimentação das grades televisivas – aí incluídas não só as TVs comerciais, mas também as educativas e culturais, e agora o promissor projeto de TV Pública nacional – mas criam um novo nicho de produção, de consumo e de vivência democrática que ainda pode dar muitos frutos, tanto na forma de produções inovadoras como na formação de público e novos profissionais.

Um exemplo desse novo protagonismo vem dos Pontos de Cultura, hoje mais de 600 em todo o Brasil e com a perspectiva anunciada pelo Ministério da Cultura (patrocinador da iniciativa) de atingirem a marca de mil até o final deste ano. Dentre inúmeras atividades – resgate da tradição oral de contadores de histórias, ações de pontos de cultura com escolas públicas, criação de webrádios e podcasts com música livre (creative commons), software livre etc. – destaca-se também o projeto “Vídeos de Bolso”, que promove oficinas de produção de minifilmes (em torno de um minuto de duração, com até 5Mb de tamanho).

Esses “vídeos de bolso” são filmados com câmeras de celulares e máquinas fotográficas digitais, editados em software livre no computador e publicados na web ou enviados por e-mail ou por mensagens multimída no celular. Tanto podem ser edições de material filmado pelas pessoas quanto remixagens de material livre encontrado online, minidocumentários da realidade local, intervenção política, vídeoarte, histórias de vida, miniclipes…

Numa demonstração das possibilidades de interação entre esse tipo de protagonismo, a produção alternativa de audiovisual e a TV Pública, os Vídeos de Bolso estão sendo levados ao ar em um convênio com a TV Brasil – Canal Integración, que já os está exibindo nos intervalos de programação em 18 países além do nosso (e que já solicita maior quantidade de produções para atender a demanda de seu recém criado núcleo de comunicação participativa e colaborativa).