Trechos de reportagens
Aqui publico alguns trechos em diversas reportagens onde fui ouvido acerca de um ou outro dos assuntos onde geralmente palpito.
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Revista Continuum do Itaú Cultural, julho de 2009
Trechos da matéria
O novo cavalo de Troia
Por Luciana Veras
No Amazonas, índios praticam educação física em aulas sem a presença de um professor, mas, sim, de vários computadores. Na Bahia, adolescentes da periferia de Salvador aprendem noções de produção e sustentabilidade combinando música com tecnologia. Para ajudá-los, um micro, uma conexão banda larga e a internet, que, cada vez mais potente e acessível, sobressai como forte aliada da educação, seja formal, com a mediação de instituições de ensino, seja não formal, com o trabalho realizado por ONGs especializadas. Junto da tecnologia que, como ela, se desenvolve a galope, a web tem remodelado os parâmetros de ensino e aprendizado no país.
Contudo, a consolidação do papel educativo da internet ainda está em processo. “Ela está para a informação e para o conhecimento como as estradas estão para a circulação de bens e produtos no mundo físico. Cada vez mais, as pessoas se comunicam superando barreiras de distância geográfica ou temporal e acessam um volume de conteúdos antes inimaginável. Essas facilidades representam tudo o que qualquer educador possa ter almejado um dia nos seus sonhos mais fantásticos. Mas o desafio, para além de dotar as escolas de computadores e de banda larga, é usar as novas tecnologias não só para melhorar a qualidade da educação, mas também para repensá-la”, sinaliza Carlos Seabra, consultor de tecnologia educacional e redes sociais e diretor de tecnologia e projetos do Instituto de Pesquisa e Projetos Sociais e Tecnológicos (IPSO).
“Mais do que transferir para a web os métodos tradicionais de ensino, é necessário estimular a imaginação dos alunos, o prazer de aprender, o protagonismo cognitivo”, complementa Seabra.
Sua tese é que a internet será o novo “cavalo de Troia”, transpondo muros e incorporando novas missões. “A educação é algo sério demais para ser deixada somente para a escola. Ela tem de ser, ainda mais na sociedade da informação e do conhecimento, uma preocupação de todos. A rede mundial pode e deve ser a ferramenta para a construção dessa nova realidade.”
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Site do Radar Cultura, 6 de outubro de 2008
Matéria no site do programa
Participação no Roda Viva, fazendo comentários por Twitter
Carlos Seabra (@cseabra) é diretor de tecnologia do IPSO – Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais e Tecnológicos. Veja como o participante do Roda Viva de hoje define o Twitter.
RadarCultura: Para você, o que é o twitter?
Carlos Seabra: Para mim, o Twitter é um interessante instrumento de microblogging, que permite comunicação sintética numa rede de comunicação bastante efetiva, possibilitando interações com outras mídias, tanto na internet quanto fora dela.
RadarCultura: Por que e para que você usa o twitter?
Carlos Seabra: Eu uso o Twitter de forma a experimentar novos usos e detectar possibilidades, concretamente como canal de comunicação para alguns projetos experimentais de microliteratura e poesia (microcontos e haicais).
Também o utilizo para acompanhar certas palavras-chave e assuntos, não só das pessoas que sigo no twitter, mas terceiros, através da busca pelo search.twitter.com e busca por tags.
RadarCultura: O que você acha desta experiência do uso do Twitter para realizar a cobertura das entrevistas no RodaViva?
Carlos Seabra: Acho muito interessante que a TV Cultura entre experimentalmente no Twitter, para vermos que possibilidades concretas de interação existem. Inclusive já assisti um Roda Viva em função dos comentários que li antes no Twitter, acompanhados pelo meu smartfone.
Nada como usar para detectar e identificar novas possibilidades de uso!
RadarCultura: Como você fará a cobertura pelo twitter e o que você espera?
Carlos Seabra: Não sei exatamente o que espero, pois será a primeira vez que assumirei este papel no Twitter, participando da cobertura e acompanhamento ao vivo.
Mas pretendo, a priori, ir postando meus comentários sobre o que diz o entrevistado, bem como formulando perguntas sobre o que ouvir, assim como interagir com os comentários de outras pessoas que comentem acerca dos meus posts.
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TIC Brasil, 20 de fevereiro de 2008
Trechos da matéria
Uso das TICs diminui abismo digital entre nações ricas e pobres, mas países emergentes ainda estão atrasados
O uso das tecnologias está diminuindo o abismo digital entre países ricos e pobres, segundo relatório da Conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês), lançado no início de fevereiro. A pesquisa revela uma maior proximidade nas taxas de inclusão digital entre os países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento à medida que telefones celulares e internet, por exemplo, se tornam mais disponíveis à população. “O mundo emergente, entretanto, ainda está muito atrás”, aponta o relatório.
Nos últimos cinco anos, o total de usuários de telefones celulares praticamente triplicou nos países em desenvolvimento, o que corresponde a cerca de 58% dos usuários de celulares do mundo. “A região da América Latina é responsável pela terceira maior taxa de crescimento no número de celulares. Brasil, México, Argentina, Colômbia e Venezuela são responsáveis por 75% dos novos assinantes da região”, afirma o relatório.
Para Carlos Seabra, diretor de Tecnologia e Projetos do IPSO (Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais e Tecnológicos), a internet não diminui a exclusão digital se não for concomitante com outras práticas de investimentos. “A internet em si não diminui a exclusão, assim como lápis e papel ou livros não acabam sozinhos com o analfabetismo. Inclusão digital pressupõe apropriação, pressupõe eliminação de exclusão social. O acesso à internet pode colaborar muito com a exclusão digital e social se for articulado com outras políticas e investimentos, se levar ao engajamento do cidadão no acesso às informações, tornar-se um instrumento efetivo de comunicação, fomentar o protagonismo, engajar jovens, donas de casa, terceira idade, professores, lideranças comunitárias etc”.
De acordo com Carlos Seabra, essa distância cairá cada vez mais, dadas as características tanto das novas tecnologias quanto da essência do modelo econômico, que não se sustenta apenas em mercados ricos e nas classes mais altas, levando a disseminar cada vez mais o acesso à internet e aos computadores em todas as classes e países. “Isso, porém, não garante a inclusão digital, como a entendo, pois não basta ‘sentar um pobre na frente do computador’ para que tal ocorra. É necessário trabalhar educação, cidadania e cultura – e nisso a informática e a internet são poderosos ‘cavalos de Tróia’ que podem ajudar a superar as muralhas excludentes da injustiça social e planetária”.
“É fundamental que se somem esforços de políticas públicas, envolvendo ações governamentais, comerciais e do terceiro setor, pois somente as forças do mercado não garantem que não se venha a criar um novo tipo de clivagem, incluindo digitalmente uma parcela dos excluídos e deixando os mais excluídos ainda em uma espécie de apartheid tecnológico. Finalmente, há que se levar em conta também o custo da tecnologia, pois os cartéis de comunicação fazem com que a estreita banda larga no Brasil seja muito mais cara que na Europa ou nos Estados Unidos”, acrescenta Seabra.
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Site do Comitê Gestor da Internet no Brasil, 28 de novembro de 2007,
republicado de Agência Brasil, 27 de novembro de 2007
Trecho da matéria
Pobres pagam mais por internet, diz estudo
Por Morillo Carvalho, da Agência Brasil
Um cidadão de Manaus paga cerca de 1.600% a mais pelo uso da internet do que um morador da Europa ou dos Estados Unidos.
Tal distorção é causada, entre outros fatores, pela hegemonia dos americanos na administração dos domínios concluiu um painel da 6ª Oficina para a Inclusão Digital, que ocorre em Salvador até quinta-feira (29).
Segundo Carlos Seabra, diretor de Tecnologia e Projetos do Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais e Tecnológicos (Ipso), é necessário o engajamento da população para que o acesso à rede mundial de computadores seja democratizado.
“Quanto mais pobre o país, mais as pessoas pagam, e dentro do país também existem diferenças”, ressaltou. “A população que está sendo incluída digitalmente precisa entender o que se passa política e economicamente para termos uma cidadania participativa.”
“As pessoas devem ter mais consciência do que está por trás da inclusão digital. Temos de entrar nas discussões de governança de forma pesada”, declarou Seabra. “Se um país como Ruanda quer se conectar à internet, tem que pagar um dinheirão, ao passo que a Austrália, quando vai se conectar, paga muito menos, porque eles têm um poder de negociação maior com os Estados Unidos”, disse.
No debate, também foram apresentados indicadores do uso da internet no Brasil. Para Seabra, a internet pelo celular pode se converter em uma maneira de ampliar o acesso à rede mundial de computadores. “Percebemos o crescimento do uso da internet por celular, nas classes A, B e também nas C e D. Discutimos, então, um jeito de democratizar a gestão das redes digitais em todo o planeta”, afirmou Seabra.
A neutralidade na transmissão de dados também foi foco das discussões. Segundo Seabra, há provedores de acesso, no Brasil, que reconhecem quando o usuário está no site do concorrente e, por isso, torna a conexão mais lenta para aquela página.
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Site da Ação Educativa, 25 de abril de 2006
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Comunicação, Cultura Digital e Mídias Alternativas
Por Júlia Tavares
O seminário “Comunicação, Cultura Digital e Mídias Alternativas”, promovido pelo Laboratório de Desenvolvimento Cultural do Fórum Intermunicipal de Cultura, teve como escopo avaliar o atual estado dos meios de comunicação no país e na cidade de São Paulo, apresentar experiências alternativas e indicar caminhos para a comunicação democrática na cidade de São Paulo .
Foram debatedores Carlos Seabra, editor e produtor de conteúdos de multimídia e internet, diretor de tecnologia do Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais e Tecnológicos e Paulo Cannabrava Filho, jornalista, presidente da Associação da Propriedade Intelectual dos Jornalistas. A mediação ficou a cargo de Júlia Tavares, jornalista, da comunicação do Instituto Pólis.
Acompanhe abaixo a síntese do debate, realizado no dia 25 de abril:
O primeiro palestrante foi Paulo Cannabrava Filho, jornalista e presidente da Associação da Propriedade Intelectual dos Jornalistas. Cannabrava lembrou que o debate ocorria numa data simbolicamente importante para a luta pela democracia. Em 25 de abril de 1974 foi deflagrada a Revolução dos Cravos, levante que derrubou a ditadura de Oliveira Salazar, que vigorava em Portugal desde 1926. Foi também em um “25 Aprile” de 1945, na Itália, que os “partigiani” (guerrilheiros anti-fascistas) e as forças aliadas protagonizaram a libertação da ocupação das tropas nazis, pondo fim à ameaça do fascismo ressurgir no cenário político italiano, fato conhecido como o “Dia Libertação”.
Cannabrava analisou que os fatos relacionados com a data falavam da capacidade de resistência contra o poder sem oposição, que é a ditadura. E que tal situação perdurou no Brasil durante os anos do regime militar, instaurado em 1964. A capacidade de resistência esperada da mídia naquele período não se efetivou no Brasil, de modo que apenas o Jornal Correio da Manhã e a Rádio Marconi, segundo ele, mantiveram a verdade e não pactuaram com a ditadura.
Citou como exemplo na falta de resistência da mídia contra o poder dominante o fato que o militante comunista José Luís Del Roio, ítalo-brasileiro de Bragança Paulista, no Estado de São Paulo, foi eleito Senador da República região da Lombardia e foi completamente ignorado pela mídia brasileira.
Carlos Seabra¸editor e produtor de conteúdos de multimídia e internet, diretor de tecnologia do Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais e Tecnológicos – IPSO, seguiu no debate relembrando que a mídia nacional não dá importância para fatos socialmente relevantes como a eleição de senador brasileiro e comunista num país europeu.
Disse discordar que a mídia tenha sido somente conivente com o golpe de estado 64, já que isto supõe ter apenas não resistido ao golpes, uma tendo sido ele deflagrado. Mas na verdade, grande parte da mídia colaborou ativamente na confabulação do próprio golpe.
Seabra lembrou que se havia um regime que não permitia liberdade de imprensa e que obrigava a produção de matéria cifradas, como as receitas de bolo, este estado de coisas piorou na contemporaneidade. Hoje a mídia consegue tratar ainda menos dos fatos sociais reais, tão coagida que é pelo poder econômico.
Quanto ao debate sobre o mundo digital, questionou o que é realmente transformador nesta perspectiva? Ensaiou uma resposta, retomado a história dos 10 Mandamentos de Moisés, ironizando que eles foram baixados num download mais lento nos idos de 1500 A.C. Lembrou que há hoje um “totem” tecnológico que precisa ser superado, já que o avanço da técnica e o surgimento das novas mídias não resolvem tudo. São apenas ferramentas para uma ação refletida. Advertiu que o capital, sendo flexível como é pode assimilar e dominar as novas mídias, como está fazendo com a TV digital.
Propôs que as ONG´s precisam produzir energia para transformar o mundo, para além de ações alternativas e localizadas. “Protagonismo autoral e digital não é suficiente sem base social, que exige organização. É necessário ter projetos de mundo e sociedade que sustente estas iniciativas”, afirmou.
Após as duas provocações iniciais pessoas presentes no encontro fizeram algumas intervenções.
Hamilton Faria, do Fórum Intermunicipal de Cultura, lembrou que o digital traz uma mudança de suporte que altera e traz novidades próprias do meio e, por isto, não pode ser visto apenas como instrumento. Mas como uma determinada forma de produzir linguagem, ou uma linguagem singular. Esta compreensão pode fazer com que, de fato, seja utilizada a favor da transformação.
Chamou atenção para a webrádio, como um exemplo do entusiasmo pelo barateamento dos recursos necessário para fazer ir ao ar um rádio. Além do fato de permitir escapar da perseguição da legislação e da polícia por conseqüência. Levantou a possibilidade deste suporte permitir a construção de valores positivos para a política, colocando em segundo plano os limites de sua capilaridade (já que poucas pessoas têm acesso à internet).
Seabra afirmou que o debate sobre as novas tecnologias ainda é muito enrolado e que isto é um mecanismo inteligente de fazer a própria tecnologia parecer enrolada e de difícil compreensão. Exemplo do tipo de debate que esta ganhando espaço na mídia sobre a TV digital.
Chamou atenção para o fato que as novas mídias são estratégias prospectivas de mudança, que constróem no presente mirando um futuro que já esta chegando. Seu potencial de alcance é muito grande, mesmo que no momento atinja um número reduzido de pessoas.
Ele sugeriu: (1) que a cultura digital precisar ser desenvolvida, o que exige desenvolver competências para produzir as mensagens que se deseja; (2) a necessidade de políticas em/de rede, onde um único ponto pode atingir toda uma comunidade; (3) que as webrádios possam produzir conteúdos para as rádios comunitárias, criando uma cadeia entre o virtual e outras práticas de comunicação comunitária e (4) que é necessário dominar a linguagens dos meios, o que exige fazer mediações com outros atores sociais não envolvidos diretamente coma produção de mídia. Seabra também chamou atenção para os blogsm que podem ser o primeiro passo rumo à construção de habilidade e hábitos na produção de conteúdos na rede.
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Portal Unicamp, 12 de maio de 2005
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Panorama Nacional da Inclusão Digital
Por Maria Alice da Cruz
“Meu pobre, meu computador, meu projeto”. Assim o professor do Instituto de Pesquisas Sociais e Tecnológicas (IPSO), Carlos Seabra, vê vários dos projetos de inclusão digital desenvolvidos no Brasil e questiona: “Quem disse que computador é só para fazer curso de informática? A máquina tem de estar disponível para pessoa navegar, escrever poesia, letra de música, buscar informações”. Na sua opinião, existe demagogia em determinados programas sociais que dizem que conhecimentos em informática aumentam a possibilidade de emprego. As críticas bem como os benefícios da era digital foram abordados por ele na palestra “Panorama Nacional da Inclusão Digital”, no Fórum Permanente Conhecimento, Tecnologia da Informação, hoje na Biblioteca Central da Unicamp.”As pessoas precisam aprender a usar o computador para dialogar com o próprio cérebro”, disse. A inclusão digital, na observação de Seabra, está muito ligada à social, a partir que o desenvolvimento de novas tecnologias implica a perda de empregos e aumenta a exclusão digital. Na sua opinião, o ideal seria não parar de desenvolver tecnologia, mas reaproveitar em outras áreas os profissionais substituídos por máquinas.
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Portal Aprendiz, 25 de agosto de 2004
Trechos da matéria
Evento discute o uso de jogos eletrônicos em sala de aula
Por Cassia Gisele Ribeiro
Os games e jogos de computador podem se tornar aliados da construção do conhecimento em sala de aula. A conclusão norteou a discussão na mesa-redonda “Jogos na Educação: Ferramentas para o professor, aprendizagem para o aluno”, que aconteceu nesta quarta-feira. O debate foi promovido pela Fundação Telefônica e pela Estação Ciência, da USP. O evento contou com a presença de Romero Tori, coordenador do Laboratório de Tecnologias interativas da USP; Carlos Seabra, educador e criador de jogos eletrônicos e Roger Tavares, pesquisador de novas tecnologias para a utilização do jogo eletrônico como ferramenta de treinamento, educação e alfabetização. Carlos Seabra lançou aos educadores a seguinte questão: “Por que os jovens não se interessam pela escola, mas perdem horas respondendo a jogos de perguntas respostas?”. Para ele, os jogos trazem ao alunos a possibilidade de descoberta, e não de simplesmente absorver um conteúdo obrigatório. O educador afirma que os jogos educativos correm o grande risco de se tornar chatos. É preciso então que a escola tenha em mente que ser educativa é função dela, e não do jogo. “A escola, no entanto, não deve achar que sua função é ensinar os alunos a buscar entretenimento e prazer. O uso dos jogos deve ter o propósito de contribuir com o intelecto do aluno”, ressalta. O evento marcou também o lançamento do game Bellatrix (www.museudotelefone.org.br/bellatrix), que tem como tema central a história das telecomunicações. “O principal objetivo do jogo é divertir, e não ser uma aula. No entanto, o jogo foi criado e pensado como um instrumento para transmitir conhecimento”, diz Roberto Martins, um dos idealizadores do Bellatrix. O game conta a história de extraterrestres que caem no planeta Terra e precisam retomar o contato com seu planeta de origem. Para isso, eles entram em uma busca pelas informações sobre a história das telecomunicações.
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Agência USP, 15 de setembro de 2003
Trechos da reportagem
Itaú Cultural discute com professores da USP linguagem e educação nos jogos eletrônicos
Por Maurício Kanno
Os jogos eletrônicos motivam o aprendizado sendo, portanto, educativos, como pensam os especialistas da USP Carlos Seabra, da Escola do Futuro, e Gílson Schwartz, do projeto Cidade do Conhecimento. Mas há os que podem ser nocivos, como explica a professora Maria Isabel da Silva Leme, do Instituto de Psicologia (IP). “Principalmente os que lidam com violência, pois passam a mensagem de que não é condenável brincar com este tipo de coisa”. Esses jogos são temas de debates na exposição “Games o Quê”, que acontece no Itaú Cultural em São Paulo. Além de mostrar uma discussão histórica sobre os jogos, desde Space Invaders, do sistema Atari, até Enter the Matrix, do avançado Playstation, o evento mostra como os jovens são realmente atraídos por eles, já que todos podem jogar de graça na exposição. Para Seabra, que participou de um dos debates da exposição, “se a pessoa for saber mais sobre o assunto depois do jogo, então foi alcançado o objetivo. Educação não é só transmitir conteúdo, é motivação”. Além disso, os jogos eletrônicos ainda podem ser trabalhados em pontos mais específicos, se houver um projeto que aproveite suas potencialidades. “O Sim City, jogo que simula a construção de uma cidade, é um bom exemplo. Seria genial com o apoio de um professor de Urbanismo”, afirma. Schwartz, que participará do debate sobre o tema no próximo dia 25, concorda: “para jogar é preciso conhecer determinado universo. Por exemplo, se a pessoa vai jogar num período histórico diferente, então terá de buscar saber sobre a Idade Média, o Egito etc.” “Na verdade, todo jogo é educativo. Basta ver em qual educação você está pensando”, diz Seabra. “Até mesmo um jogo de matar marcianos dá destreza. Já se você está ambientado na Segunda Guerra Mundial, está aprendendo a manusear aparelhos de guerra e, ao mesmo tempo, uma realidade histórica.” A linguagem do jogo também ajuda muito, diz Seabra, pois o jovem desenvolve uma intuição tecnológica, se prepara para as novas tecnologias, com todos os seus aspectos audiovisuais, o conteúdo cognitivo e simbólico. Também há estudos citados pela professora Maria Isabel da Silva Leme, do Instituto de Psicologia (IP) da USP, que relatam ganhos na capacidade de memória, coordenação viso-motora, e criatividade. “Porém, para algumas crianças que têm dificuldade de interpretar corretamente a intenção alheia ou não têm valores claros sobre violência, é prejudicial, por não condenar brincar com esse tipo de coisa.” Seabra já entende que a violência é uma realidade mesmo, não se pode fugir dela, pois é algo natural. Sendo assim, o fato de o jogo permitir que se brinque com ela permite que o jovem não a pratique em seu dia-a-dia, como uma válvula de escape. “No jogo, se percebe o que não se quer ser. As crianças do narcotráfico não tiveram uma infância em que puderam brincar com isso.”
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Revista Problemas Brasileiros nº 357, maio/junho de 2003,
republicado em Repórter Brasil, 1 de agosto de 2003
Trechos da matéria
Primeiros passos – Brasil tenta tirar atraso na corrida da inclusão digital
Por Carlos Juliano Barros
Além disso, o GNU/Linux tem código aberto. Qualquer pessoa pode mexer em sua estrutura e, a partir daí, criar novos programas. É o que se chama de “fomento”, uma forma de estimular a competência nacional na área de informática. “Se quisermos construir um país transparente e desenvolver nossas empresas de software, é desejável pegar o caminho do software livre”, afirma Carlos Seabra, diretor da Escola do Futuro da USP, instituição que, entre outras coisas, capacita os monitores do Acessa São Paulo. Mas também não se deve criar a ilusão de que o uso do GNU/Linux seja suficiente para solucionar os problemas nessa área. “Não adianta instalar esse sistema em uma máquina velha, levar para a favela e dizer que se está fazendo inclusão digital. É preciso tomar cuidado com argumentos que mais parecem demagogia”, analisa Seabra.“Ninguém fica mais ou menos cidadão por usar software livre ou proprietário”, argumenta Seabra. Contudo há o consenso de que a escolha de sistemas operacionais como o GNU/Linux pode constituir uma importante ferramenta no desenvolvimento tecnológico de uma comunidade. O trabalho de Marcos consiste em comprar e vender carros queimados. Meses atrás, ele passava horas ligando e comparecendo a leilões de sucatas. Às vezes, não gostava do produto e perdia a viagem. Desde que começou a freqüentar um ponto de acesso comunitário de computadores, na zona leste, não usa mais o telefone para fazer seus contatos. Pelos jornais, ele pega os endereços dos sites dos leilões e, dessa forma, economiza tempo e o dinheiro. Pela foto na internet, ele vê o estado da sucata e nem sai de casa se ela não lhe interessar. Outra vantagem: a redução na conta de telefone foi bem significativa. Certamente, o uso do computador mudou o dia-a-dia de Marcos. Mas não se pode dizer o mesmo de sua condição social. O que se entende então, por inclusão digital, consiste em “dar vazão a atividades que a própria pessoa já faz, por meio de outra ferramenta”, diz Seabra. Na verdade, o exemplo de Marcos não configura um caso explícito de inclusão digital, pois, de alguma forma, ele já usava tecnologias digitais – como o telefone ou o celular – no seu cotidiano. Atividades, além da informática, têm sido uma iniciativa comum entre aqueles que buscam não só a inclusão digital, mas também a melhoria da qualidade de vida, estimulando a formação de uma identidade coletiva e cooperativa, através dessas novas tecnologias. “Mais importante que surfar na internet, é aprender a fazer onda”, filosofa Seabra. A idéia de que o domínio da informática constitui um diferencial na disputa por um emprego é lugar-comum. Nesse ponto, a inclusão pode transformar-se em ilusão. “Se um sujeito não souber colocar uma vírgula no lugar certo, ele não vai conseguir o trabalho. Mesmo que tenha o diploma de um curso de informática”, afirma Seabra. “Se isso fosse suficiente, bastaria distribuir canetas na periferia para acabar com o analfabetismo”, compara. O perigo é conceber a inclusão digital como um saída mágica para a resolução das mazelas sociais, especialmente o desemprego. “No Brasil, nós associamos muito rapidamente a inclusão social à inclusão digital”, alerta Rogério da Costa. Na esperança de se conseguir um trabalho, esse pode ser um discurso sedutor para qualquer pessoa. “Não se pode confundir o ideal de construir uma sociedade mais justa com a utilização de argumentos demagógicos”, define Seabra.
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Diário Popular, 22 de outubro de 2002, republicado no site da ABED
Íntegra da matéria
Bibliotecas virtuais precisam agir
São Paulo, SP
Responsáveis pela Biblivirt afirmam que ainda há muito a ser feito em termos de digitalização de materiais dos acervos, que tem como um dos entraves a falta de patrocínio.
A Internet brasileira, assim como em outros países, oferece centenas de sites de bibliotecas virtuais, mas, segundo a editora de conteúdo da Biblioteca Virtual da Universidade de São Paulo (Biblivirt), Simone Freitas, ainda falta muito a ser feito, pois a grande maioria não está preocupada com a digitalização do farto material impresso. Um dos bons projetos nesse sentido, diz Simone, é da Biblioteca Nacional, que para digitalização de imagens e livros raros de seu acervo.
Um dos entraves apontados para esse atraso no tocante à digitalização, segundo Simone, é a dificuldade em se conseguir bons patrocínios para as áreas de educação e cultura, que nem sempre dão a visibilidade desejada pelos candidatos a patrocinadores. “Outro complicador é a questão dos direitos autorais”, conclui.
A editora de conteúdo da Biblivirt acrescenta que os conteúdos ainda são muito iguais, pouco ou quase nada acrescentando aos internautas que se aventurem a navegar por estas bibliotecas em busca de informações diferenciadas. Isso ela atribui, dentre outros fatores, ao pouco que se vem fazendo em termos de digitalização dos ricos acervos que existem no mundo real.
Resgate da escrita
Apesar deste problemas, o coordenador da Biblivirt, Carlos Seabra, defende a Internet e as bibliotecas virtuais como fatores de estímulo da leitura, da escrita e do mercado de livros. “A Internet está conseguindo regatar a escrita, mesmo que com uma linguagem cifrada, por meio das salas de chats e dos fóruns de debates”, acrescenta ele. Para Seabra, o problema não é escrever, o grande entrave é a falta de leitura, que pode ter, nas bibliotecas virtuais, um fator de estímulo, desde que se aprimorem os conteúdos, que ainda deixam muito a desejar. “É necessário que se incorpore mais acervo nas bibliotecas, para que elas ofereçam o material necessário para os estudantes que navegam na rede”, afirma Seabra, acrescentando que na moderna sociedade do conhecimento, todos são estudantes.
Educação
O coordenador da Biblivirt diz que a Internet é uma grande biblioteca virtual, que deve ser mais explorada na educação. Ele diz que o professor precisa ser criativo na colocação das propostas de pesquisa na rede, utilizar novas estratégias pedagógicas, abandonando a postura do antigo mestre, que ditava as regras e oferecia somente soluções prontas. “O professor que dá aos alunos uma matéria de maneira pouco inteligente, infelizmente, merece receber trabalhos copiados da rede, como é comum ocorrer hoje”, afirma Seabra.
Faltam conteúdos em português
A maior preocupação de Carlos Seabra com a Internet brasileira não é com as bibliotecas virtuais, mas sim com a preservação das culturas dos países de língua portuguesa. “Hoje, apesar de termos cerca de 300 milhões de falantes do Português, apenas 2% dos sites da Internet tem seus conteúdos na nossa língua”, informa.
O coordenador da Biblivirt defende que é preciso ocupar a Internet, onde cada vez mais a informação e o conhecimento estão caminhando junto com o poder de decisão. Essa ocupação dos espaços do mundo virtual é, para ele, um fator de preservação da cultura de língua portuguesa, por isso a importância de se criar cada vez mais, e rápido, conteúdos em nossa língua.
Novidades
Por isso, segundo Seabra, a Biblivirt vem abrindo seu leque de opções para os internautas, incorporando a seu acervo filmes on-line, cantigas infantis, cliparts (para dar opções de ilustração aos estudantes), buscando conteúdos populares, que reflitam não somente a realidade acadêmica. Dentro deste espírito e visando ser uma boa opção virtual para todos os públicos, a Biblivirt estará colocando no ar em breve, alguns contos de Ruth Rocha, narrados pela autora e o clássico “Alice no País das Maravilhas”, na linguagem brasileira de sinais. E, na segunda quinzena de abril do próximo ano, estará pondo na rede um acervo da música popular brasileira, link que será coordenado por Sacha Band, que já iniciou contatos com profundos conhecedores da história da MPB, como Ricardo Cravo Alvim.
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Valor Econômico, 21 de outubro de 2002
Trechos da matéria
Inclusão digital vai muito além de um PC
Por Shirley Ribeiro
A inclusão digital é vista também como um incentivo à alfabetização e como uma ferramenta na busca da cidadania. Ao perceber as possibilidades abertas pelo mundo digital, o analfabeto descobre a necessidade de aprender a ler e escrever, a comunidade carente percebe formas de lutar por melhores condições de vida, o desempregado cria novas fontes de renda. A experiência de alguns projetos mostra que isso não é utopia. “Com o telefone, a televisão e o rádio, a escrita perdeu muito da sua funcionalidade. A internet resgata o valor da escrita e da leitura. Temos vários casos de analfabetos que descobriram a necessidade de voltar para a escola”, afirma Carlos Seabra, coordenador da Escola do Futuro da USP.
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Valor Econômico, 23 de maio de 2002
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Projetos sociais ganham força no país
Por Carmen Lígia Torres
Com metas ambiciosas e implantados de forma profissional ou por iniciativas quase pessoais e métodos bastante amadores, os projetos sociais que buscam a inserção – ou preparo – de crianças, jovens ou adultos no mundo profissional começam a se consolidar no país. Para Carlos Seabra, coordenador do Centro de Inclusão Digital e Educação Comunitária da Escola do Futuro da USP, especialista em educação e tecnologia, a contribuição efetiva do empresariado brasileiro poderia ter uma dimensão maior, compatível com os problemas vividos pelo país e proporcional ao porte dos negócios gerados pelas empresas. “O que assistimos, muitas vezes, são pequenas amostras de boas ações que poderiam dar resultados mais relevantes quantitativamente caso os investimentos fossem maiores”, diz, ressaltando que os projetos precisam de validação externa. Seabra acredita que a tecnologia social deve ser encarada como um método científico necessário para a evolução dos processos de resgate social, sob pena de esta área ser sempre considerada como atitude filantrópica das empresas para com as populações excluídas.
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