Tablets na sala de aula

ABRIL 2012

Íntegra do artigo escrito para a publicação Educação em Revista, do Sindicato do Ensino Privado (SINEPE/RS), edição 91, de abril/maio de 2012.

Há cerca de cinco mil e quinhentos anos, os sumérios inventaram uma das primeiras formas de escrita. Usando um tipo de estilete de cana, faziam inscrições, em formato de cunha (daí a designação desse tipo de escrita: cuneiforme), nesses “tablets” primitivos de argila.

Hoje, muitos passos após (hieróglifos em pergaminhos, monges copistas, Gutenberg, lápis, caneta e papel, máquinas de datilografar, computadores), as tabuletas retornam como avanço máximo da tecnologia digital na ponta dos dedos.

As interfaces de tocar na tela, presentes tanto nos tablets quanto nos celulares, estes mais disseminados ainda (tanto que já há muito mais deles do que bolsos que os carregam), dão aos dedos funções para além de teclar em letras e números. Permitem que se desenhe diretamente na tela, que movimentos de pinça, com indicador e polegar opositor, aumentem ou diminuam imagens, que as rotacionem ou arrastem.

A leitura de livros (mas também de jornais e revistas) é uma experiência quase próxima, embora ainda não igualável, à proporcionada pelo papel, permitindo destacar trechos, redigir anotações e, principalmente, carregar sem aumento de peso centenas de obras. Só por este aspecto as costas dos alunos agradecem o alívio do peso em suas mochilas escolares.

Conectados à internet, seja por redes locais sem fio (wi-fi) ou por conexão de telefonia (3G), o tablet é um navegador que permite acessar qualquer sítio na web, fazer pesquisas em buscadores e enciclopédias, acessar blogs e publicá-los, assistir filmes e ouvir música ou programas de rádio. Permite acessar o correio eletrônico, para ler e enviar e-mails, assim como comunicação direta através de mensageiros instantâneos, para bate-papo, ou acessar redes sociais, como Twitter e Facebook.

Os tablets funcionam, ainda, como máquinas fotográficas, permitindo tirar fotos, editá-las e publicá-las, em álbuns online ou blogs. Também permitem gravar e editar arquivos em áudio, funcionando como gravador para anotações pessoais ou mesmo entrevistar pessoas para trabalhos escolares. Dotados de sensor de posicionamento e GPS, permitem interagir com mapas e georreferenciar, com poucos metros de imprecisão, a exata posição do tablet no planeta (útil para se fazer webgincanas, por exemplo, ou recuperar o tablet no caso de perda).

Todas estas características, reunidas num só aparelho, portátil e leve, com a capacidade de processamento inúmeras vezes maior que os primeiros computadores militares (que custavam milhões de dólares e pesavam muitas toneladas) certamente são um conjunto de recursos que podem viabilizar inúmeras atividades pedagógicas, facilitar a visualização de conteúdos cognitivos, estimular atividades cooperativas e o desenvolvimento de projetos.

Além do acesso à internet e a livros, o aluno pode interagir com infográficos, com simulações, com jogos educacionais, fazer simulados de provas (Enem, por exemplo) e outros exercícios, além de acessar cursos à distância.

As pessoas vão deixar de ler livros no bom e consagrado formato de edições em papel? No caso dos livros didáticos e dos dicionários, em boa parte sim; no caso de romances, de poesia, quase certamente não. Afinal, o papel é uma tecnologia comprovadamente resistente, que não necessita de fonte de energia, e assim como o cinema não acabou com o teatro, nem a televisão acabou com o cinema, o livro possui inúmeras vantagens. O maior inimigo dos livros não são os leitores de formatos digitais (que nos grandes sistemas online são também os maiores compradores de edições em papel) mas sim os não-leitores.

Os alunos desaprenderão a escrever com lápis e caneta no papel e sua caligrafia será um horror? O importante é aprender a escrever e ter prazer nisso. Se o instrumento utilizado para a escrita ou o desenho é a ponta do dedo, uma caneta ou um pincel, isso faz parte da diversidade de recursos cuja apropriação a escola deve estimular. Se a caligrafia for considerada importante, convenhamos que o tablet pode permitir estratégias mais adequadas e interativas do que canetas tinteiro.

Esses usos do tablet na escola exigem um professor preparado, dinâmico e investigativo, pois as perguntas e novas situações que surgem fogem do controle preestabelecido do currículo. Essa é a parte mais difícil desta tecnologia. E esse é o papel insubstituível do professor: elaborar estratégias que deem signifcado a essa porta que se abre para o universo do conhecimento. Sem isso, equipamentos e software podem apenas ser modismos adestradores de um mercado consumidor, perdendo-se a oportunidade de promover uma efetiva mudança na área do ensino.

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